segunda-feira, 24 de maio de 2010

A moça tecelã e seus ensinamentos...


Galera!!!
Essa semana trago um conto da Marina Colasanti (que todos já sabem o quanto admiro!), o qual provoca em mim muitas reflexões, e a principal delas é a responsabilidade que tenho sobre minhas ações e sobre as reações provocadas, ou seja, o quanto somos nós que buscamos aquilo que temos...
Deixo este presente a vocês:

A Moça Tecelã
Marina Colasanti

Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da noite. E logo sentava-se ao tear.
Linha clara, para começar o dia. Delicado traço cor da luz, que ela ia passando entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o horizonte.
Depois lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo tapete que nunca acabava.
Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça colocava na lançadeira grossos fios cinzentos do algodão mais felpudo. Em breve, na penumbra trazida pelas nuvens, escolhia um fio de prata, que em pontos longos rebordava sobre o tecido. Leve, a chuva vinha cumprimentá-la à janela.
Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e espantavam os pássaros, bastava a moça tecer com seus belos fios dourados, para que o sol voltasse a acalmar a natureza.
Assim, jogando a lançadeira de um lado para outro e batendo os grandes pentes do tear para frente e para trás, a moça passava os seus dias.
Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo peixe, com cuidado de escamas. E eis que o peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se sede vinha, suave era a lã cor de leite que entremeava o tapete. E à noite, depois de lançar seu fio de escuridão, dormia tranquila.
Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.
Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e pela primeira vez pensou em como seria bom ter um marido ao lado.
Não esperou o dia seguinte. Com capricho de quem tenta uma coisa nunca conhecida, começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam companhia. E aos poucos seu desejo foi aparecendo, chapéu emplumado, rosto barbado, corpo aprumado, sapato engraxado. Estava justamente acabando de entremear o último fio da ponto dos sapatos, quando bateram à porta.
Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu de pluma, e foi entrando em sua vida.
Aquela noite, deitada no ombro dele, a moça pensou nos lindos filhos que teceria para aumentar ainda mais a sua felicidade.
E feliz foi, durante algum tempo. Mas se o homem tinha pensado em filhos, logo os esqueceu. Porque tinha descoberto o poder do tear, em nada mais pensou a não ser nas coisas todas que ele poderia lhe dar.
— Uma casa melhor é necessária — disse para a mulher. E parecia justo, agora que eram dois. Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor de tijolo, fios verdes para os batentes, e pressa para a casa acontecer.
Mas pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente.
— Para que ter casa, se podemos ter palácio? — perguntou. Sem querer resposta imediatamente ordenou que fosse de pedra com arremates em prata.
Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e portas, e pátios e escadas, e salas e poços. A neve caía lá fora, e ela não tinha tempo para chamar o sol. A noite chegava, e ela não tinha tempo para arrematar o dia. Tecia e entristecia, enquanto sem parar batiam os pentes acompanhando o ritmo da lançadeira.
Afinal o palácio ficou pronto. E entre tantos cômodos, o marido escolheu para ela e seu tear o mais alto quarto da mais alta torre.
— É para que ninguém saiba do tapete — ele disse. E antes de trancar a porta à chave, advertiu: — Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos cavalos!
Sem descanso tecia a mulher os caprichos do marido, enchendo o palácio de luxos, os cofres de moedas, as salas de criados. Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.
E tecendo, ela própria trouxe o tempo em que sua tristeza lhe pareceu maior que o palácio com todos os seus tesouros. E pela primeira vez pensou em como seria bom estar sozinha de novo.
Só esperou anoitecer. Levantou-se enquanto o marido dormia sonhando com novas exigências. E descalça, para não fazer barulho, subiu a longa escada da torre, sentou-se ao tear.
Desta vez não precisou escolher linha nenhuma. Segurou a lançadeira ao contrário, e jogando-a veloz de um lado para o outro, começou a desfazer seu tecido. Desteceu os cavalos, as carruagens, as estrebarias, os jardins. Depois desteceu os criados e o palácio e todas as maravilhas que continha. E novamente se viu na sua casa pequena e sorriu para o jardim além da janela.
A noite acabava quando o marido estranhando a cama dura, acordou, e, espantado, olhou em volta. Não teve tempo de se levantar. Ela já desfazia o desenho escuro dos sapatos, e ele viu seus pés desaparecendo, sumindo as pernas. Rápido, o nada subiu-lhe pelo corpo, tomou o peito aprumado, o emplumado chapéu.
Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara. E foi passando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha do horizonte.

Texto extraído do livro “Doze Reis e a Moça no Labirinto do Vento”, Global Editora , Rio de Janeiro, 2000.

Beijocareflexiva!

Jujuba! ;)

terça-feira, 18 de maio de 2010

É o que me interessa!

Galera!!!

Ouvindo a música do Lenine essa semana fiquei pensando sobre o que me interessa de verdade...
A música que ouvia enquanto pensava nas coisas que me interessam era esta:



"Daqui desse momento
Do meu olhar pra fora
O mundo é só miragem
A sombra do futuro
A sobra do passado
Assombram a paisagem.

Quem vai virar o jogo

E transformar a perda
Em nossa recompensa
Quando eu olhar pro lado
Eu quero estar cercado
Só de quem me interessa.

Às vezes é um instante

A tarde faz silêncio
O vento sopra a meu favor
Às vezes eu pressinto e é como uma saudade
De um tempo que ainda não passou
Me traz o seu sossego
Atrasa o meu relógio
Acalma a minha pressa
Me dá sua palavra
Sussurra em meu ouvido
Só o que me interessa.

A lógica do vento
O caos do pensamento
A paz na solidão
A órbita do tempo
A pausa do retrato
A voz da intuição
A curva do universo
A fórmula do acaso
O alcance da promessa
O salto do desejo
O agora e o infinito
Só o que me interessa."
[É o que me interessa - Lenine]

Além de ser pura poesia, Lenine tem esse poder, de nos levar a lugares distantes em nossa mente, a memórias e reflexões...
Diante da música, fiquei pensando: o que, de fato, me interessa?
A mim, interessam algumas coisas: minha família com saúde, meus amigos e aqueles que me querem bem, também com saúde, trabalhar com vontade de trabalhar, aprender muito, conhecer pessoas que tenham algo a acrescentar, encontrar um amor de verdade, viver a vida plenamente, aproveitando o que ela tem de melhor, e claro, interessa-me muito, ser feliz todos os dias... Acho que é isso...

E a você, o que interessa?

Beijobeminteressante!!!

Jujuba! ;)

terça-feira, 11 de maio de 2010

A-do-ro!

Galera!!!
Adoro quando uma boa ideia é imitada ou seguida por outras pessoas...
Na verdade, toda boa ideia deveria servir de estímulo para gerar outras tantas boas ideias.
Assim, estou muito contente com a onda de "alunos-poetas" que tem se revelado a mim.
Estou contente e satisfeita com a qualidade dos poemas. Não estou dando conta de tantos poemas que tenho recebido... Então, vou colocando aos poucos, alguns poemas escolhidos.
Espero encorajar outros que, por algum motivo, ainda não mostraram seu talento para a escrita.
Essa semana apresento a vocês o poema do Vítor de Souza Rodrigues, do 8º ano do Colégio Cruz e Sousa, sala do Juca.

Solidão
"Solidão, palavra
que insiste em ficar.
Tento, retiro,
mas insiste em retornar.
Que sensação ingrata
que não quer me largar.
Será que insisto
dela me separar?"
[Vítor S. Rodrigues]

Obrigada, Vítor, e tantos alunos que se revelam em minhas aulas.
Meus "meninos-poetas" que transformam a vida.

Beijodesatisfação!

Jujuba! =)